ESCANDALO, GOLPE...Vinho legítimo Francês ou, GATO por LEBRE??

17/03/2010 09:51

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Escândalo francês arranha reputação
 

Produtores franceses escandalizam o mundo do vinho com um golpe de vender gato por lebre. Fabricantes da região Languedoc-Rousillon usaram as uvas merlot e shiraz, mais fartas e baratas, para produzir vinho que imitava mercadoria de mais prestígio feita com a uva pinot noir. Esta entrou na moda (e na demanda) por causa do filme-cult americano Sideways (Entre Uma e Outras, no Brasil), grande sucesso de crítica e público com sua história de dois amigos em busca do pinot noir de alta qualidade (além de outras coisas) nos vinhedos da Califórnia.
Durante dois anos, alguns produtores da França falsificaram 18 milhões de garrafas de suposto pinot noir e venderam para a grande empresa americana Ernesto & Julio Gallo, respeitada como produtora e vendedora de bons vinhos californianos, herdeira de uma tradição no setor (no caso americano, tradição em vinhos começa em 1933, quando a Lei Seca acabou nos Estados Unidos).
De acordo com o processo recém-encerrado no tribunal de Carcassone (doze pessoas condenadas a multas e outras sanções), a equipe da Gallo não se deu conta da tramoia até março de 2008. Na verdade, quem descobriu tudo foram inspetores franceses da indústria do vinho, intrigados com a produção numerosa de pinot noir que aparecia na contabilidade dos produtores da região. Como as cifras habituais sobre essas uvas indicavam produção bem menor, surgiu a dúvida: de onde vinha tanta pinot noir?
A investigação acabou revelando que oito cooperativas locais juntavam merlot e shiraz, uvas menos custosas e mais comuns em torno de Carcassone, e passavam adiante a intermediários como pinot noir, até chegar à Gallo, que vendeu milhões de garrafas aos consumidores americanos desprevenidos. A principal marca era Red Bicyclette, com uma etiqueta na garrafa que dava considerável destaque ao uso daquela uva promovida pelo filme.
Revelado o complô, a reação foi de fúria, não só por parte da Gallo e dos consumidores americanos enganados, mas sobretudo na indústria de vinho, tanto no exterior quanto na França. ‘Isso provocou uma perda de imagem e de reputação que nem podemos quantificar,” lamentou Christophe Escarguel, advogado do sindicato de produtores de vinho de Pays d’Oc.
O juiz Jean-Hugues Desfontaines, que condenou doze pessoas a multas de cinco mil euros cada em Carcassone, observou que “a fraude, de tamanho considerável, resultou em sério prejuízo aos vinhos de Languedoc”.
O principal responsável pela trama, Claude Courset, chefe da empresa Ducasse, que intermediou a operação, foi punido com uma multa de 45 mil euros e seis meses (suspensos) de prisão. Sua imagem como mercador de vinhos está arrasada, mas muitos críticos acharam as sentenças em geral, a todos os responsáveis, moderadas demais, porque os lucros dos falsários alcançaram 7 milhões de euros. E o efeito sobre a reputação dos produtores locais, mesmo os inocentes, vai permanecer durante longo tempo.
Guy Woodward, editor da revista especializada em vinhos Decanter, diz que por mais deprimente que tenha sido o golpe, ele está longe de ser o único no comércio internacional de vinhos. “É uma triste verdade a existência de muito vinho falso por aí, tanto nas categorias baixas, como a desse Red Bicyclette, como na de vinhos refinados”, diz Woodward.

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