Três tipos de vinhos encontrados na tumba do jovem faraó

05/03/2010 01:50
Acredita-se que Tutankhamon (Tutancâmon) foi um faraó do Antigo Egito que faleceu adolescente com 19 anos. Apesar de ter governado por pouco tempo, sua história fascina, pois é uma das raras sepulturas reais encontradas quase intacta. Em 1922, ao ser descoberta, continha peças de ouro, tecidos, mobília, armas, textos sagrados e ânfora de vinhos que revelam muito sobre o Egito de 3400 anos atrás e da própria fabricação do vinho da época. 
 
 
Dentro do sarcófago encontravam-se três caixões antropomórficos, encontrando-se a múmia no último destes caixões; sobre a face, a múmia tinha a famosa máscara funerária. Decorados com os símbolos da realeza (a cobra e o abutre, símbolos do Alto e do Baixo Egipto, a barba postiça retangular e ceptros reais), o peso dos três caixões totalizava 1375 quilos, sendo o terceiro caixão feito de ouro. Na câmara funerária foram colocadas também três ânforas, estudadas em 2004 e 2005 por arqueólogos espanhóis coordenados por Rosa Lamuela-Raventós.
 
Os estudos revelaram que a ânfora junto à cabeça do corpo de Tutankhamon continha vinho tinto, a colocada do lado direito do corpo continha shedeh (variedade de vinho tinto mais doce) e a terceira, junto aos pés, continha vinho branco. Ou seja, isso prova que os egípcios fabricavam vinho branco, 1.500 anos antes do que se pensava. Era comum enterrar jarras de vinho nas catacumbas dos faraós para garantir uma agradável viagem celestial. Apesar desse aspecto sacro, não havia nenhum registro fidedigno sobre a cor do vinho consumido pelos egípcios, só revelada agora pelos espanhóis. 
 
Dos 5 mil objetos encontrados na tumba de Tutankhamon, 26 eram ânforas de vinho, com inscrições precisas sobre safra, origem, algo como appellation contrôlée, viticultor e até seu enólogo. Os vinhos animariam a vida post-mortem. "Um menino de 19 anos, da 18ª Dinastia, provavelmente não era o maior connaisseur de vinhos do seu tempo, mas quem o enterrou escolheu os itens mais finos que pôde achar", escreve o Leonard H. Lesko em The Origins and Ancient History of Wine (Universidade da Pennsylvania), um dos estudos mais completos sobre a vitivinicultura do Antigo Egito.
 
Provavelmente, as primeiras parreiras foram levadas da Ásia para regiões ao longo do Nilo e não há dúvidas sobre a sofisticação da indústria de vinho dos faraós, desenvolvida no Egito desde as primeiras dinastias (3100 - 2700 a.C.). Desenhos nas tumbas reais mostram os cuidados com as vinhas entrelaçadas, os processos de colheita, prensagem, vinificação, engarrafamento e estocagem. O grego Athenaeus (170-230 d.C.) sacramentou para a história os vinhos brancos de Plinthine, a sudoeste de Alexandria. As ânforas egípcias receberam os primeiros "rótulos" de vinho do mundo, calcados e queimados para sempre nas alongadas peças de argila. Milhares dessas ânforas foram resgatadas em Abydos e Saqqara (Memphis), de onde o delta se abre para o Mediterrâneo. Na tampa de uma delas, um hieróglifo de Den, da 1ª Dinastia. Até então o "rótulo" resumia-se à "logomarca" real. Mas a indústria se aprimorou e fez escola: das 5 mil  peças sepultadas com Tutankhamon (1328 a.C.), no Vale dos Reis (Tebas).
 
Pesquisadores da Universidade de Barcelona, na Espanha, desenvolveram uma técnica capaz de analisar a variante do vinho colocado nas jarras encontradas na tumba do faráo egípcio Tutankhamon, que morreu aos 19 anos, em 1352 a C. Em seus estudos, os cientistas detectaram traços de uma substância química comum em vinhos tintos. "O vinho era uma bebida de grande importância no Egito antigo, consumida pelas classes altas e pelos reis", disse Maria Rosa Guasch-Jané, uma das coordenadoras do estudo publicado na revista Analytical Chemistry. O seu prestígio era tamanho que diversas pinturas encontradas em túmulos de nobres e altos funcionários têm como tema a produção da bebida, desde a vindima até a fermentação. 
 
Nas análises dos resíduos, os investigadores utilizaram ácido tartárico como indicador do vinho, já que raramente se encontra esta substância em produtos não derivados da uva, e outro ácido para determinar o tipo de uva. A videira era cultivada no antigo Egito, e o vinho consumido pelas classes privilegiadas, nas refeições e nas festas, e oferecido nos rituais funerários e cerimônias de oferenda aos deuses nos templos. Os melhores vinhos eram os do delta do Nilo e dos oásis do Oeste, e a mitologia egípcia associava a cor do vinho tinto à do Nilo durante a sua cheia anual.
 
       


Vinificação

Os tipos de uva que os antigos egípcios utilizavam para elaborar seus vinhos sempre foi uma incógnita. O estudo espanhol consegue demonstrar a existência de três variedades de vinho diferentes graças aos restos a mais de 3.300 anos de antiguidade que se puderam analisar. “O mais surpreendente do estudo é  que demonstra a existência de vinho branco 1.500 anos antes do que se editava, já que nos fixamos na iconografia que se conserva do Antigo Egito em relação com a elaboração do vinho e outros motivos vinícolas, a uva e o vinho sempre aparecem representados de uma cor escura, com um aspecto avermelhado ou azul” 
 
A investigação baseou-se na análise de mostras de resíduos que ficavam no fundo dos recipientes, séculos depois do vinho evaporar. Analisou-se o conteúdo das três ánforas da câmara funerária, bem como de outras cinco que estavam na sala anexa. Estas foram selecionadas entre as vinte e seis do enxoval funerário de Tutankhamon porque levavam as inscrições irp, que significa ‘vinho’, e shedeh, uma bebida cujo origem se desconhecia até agora e se debatia se provinha da uva ou de outras frutas.
 
O estudo, que foi financiado pelo grupo Codorniu e a Fundação para a Cultura do Vinho, levou-se a cabo mediante um protocolo inovador de alta sensibilidade aplicado para determinar vinho em resíduos arqueológicos baseado na cromatografía líquida e a espectrometría de massas em tándem. No estudo se utiliza o ácido tartárico como indicador do vinho, já que raramente se encontrou de forma natural em produtos diferentes da uva. Para conhecer o tipo de uva, branca ou negra, o indicador é o ácido siríngico.
 
 
Diego González

 

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