XVIII Avaliação Nacional de Vinhos Safra 2010

26/09/2010 22:11

 

18a Avaliação Nacional de Vinhos – safra 2010

Por sommelierprofissional

Como comentei com vocês, tive a oportunidade de fazer parte do juri composto por 16 degustadores e 16 amostras do que é considerado mais significativo da safra 2010. É importante frizar que não é um campeonato, nem se tratam de ganhadores, mas sim, vinhos representativos do ano vinícola. As categorias eram vinhos base para espumante, brancos não aromáticos, brancos aromáticos e tintos. Eram 16 amostras e os 16 jurados avaliariamos todos os vinhos, mas cada um de nós deveria comentar uma das amostras. Todos os vinhos, segundo a organização, ainda estão em tanque, portanto é uma avaliação de vinhos que ainda não estão no mercado, principalmente os vinhos-base que ainda passarão pelo processo de tomada de espuma. Eu tive a árdua tarefa de comentar justamente um destes.

Em geral, pela a dificuldade da safra, os vinhos estavam bem, com algumas novidades em termos de uvas e vinícolas menores. Também, em geral, achei que faltou frescor, mas os vinhos ainda estão nervosos pela pouca idade. Normal. Portanto, não leiam minha degustação como algo definitivo e sim como de seres vivos ainda em estado “fetal” que precisam crescer e se desenvolver com o tempo.

750 pessoas vieram para a avaliação. Fenomenal.

Categoria: Vinho Base para Espumante

1. VINHO BASE ESPUMANTE (Chardonnay):Domno do Brasil.

Foi o vinho que comentei. Nariz perfumado e limpo, com boa matéria prima. Na boca, boa cremosidade e estrutura média. Faltou extrato no meio de boca, um pouco diluído e sobrando álcool. Minha nota, apesar de baixa, reconhecia a qualidade e nitidez do vinho em nariz e boca, mas os pontos foram poucos pela falta de persistência, intensidade e acidez em boca.

Fui abordada pela moça que recolhia as notas que me perguntou “não quer dar uma nota mais alta? é que o pessoal está dando mais pontos que você “.   Bom, não creio era uma questão de querer. Era uma questão de preencher a ficha de avaliação dada por eles e somar os pontos. Também fui abordada pelo sr. João Valduga que, indignado, disse que massacrei os vinhos com minha nota. Que deveria aumentá-la pois nossa viagem é paga por eles. O que talvez ele não tenha entendido, é que eu não vou dar notas alta só porque me pagam a viagem.  Se me convidaram, eu imagino, era porque queriam saber minha opinião real e não porque queriam que fosse “puxa-saco” (por falta de expressão melhor) dos vinhos. Aquela foi minha análise daquele vinho naquele momento e sinto muito se a safra foi difícil. Não fui eu que fiz chover a mais. Confesso que fiquei assustada com a agressividade do sr. João Valduga, que suava, estava vermelho e tremia enquanto me falava dirigia a palavra com raiva.  Como expliquei para ele, tenho estado atenta para as melhorias do vinho brasileiro, tenho dado meu apoio e, diga-se de passagem, indiquei um vinho dele para minha última coluna da revista Contigo! Não foi suficiente. O homem estava fora de si e perdeu qualquer resquício de elegância em sua abordagem.

De todas as maneiras, mais tarde conversei com Philippe Mevel, enólogo da Chandon Brasil (e referência no tema) que me disse concordar em 100% com meus comentários, assim como Roberta Boscato, enóloga (também referência) em vinhos de qualidade do Rio Grande do Sul. Fiquei aliviada por ter gente com gabarito tão confiável concordando com minha humilde avaliação em uma categoria tão difícil.

2. VINHO BASE ESPUMANTE (Chardonnay/Pinot Noir):Vinhos Salton: Nariz maduro e limpo, com notas tropicais. Na boca é intenso, cremoso, tem estrutura e boa acidez. Temos que esperar pela segunda fermentação.

Categoria: Branco Fino Seco Não Aromático

3. CHENIN BLANC: Vinícola Ouro Verde. Nariz floral, rico, com um toque de umidade, mas fino, no geral. Na boca, faltava acidez e sobrava um pouco de álcool, além de um finalzinho amargo.

4. CHENIN BLANC:Vitivinícola Santa Maria: Nariz maduro, com toque tostado e uma nota floral que me lembrava margaridas brancas. Na boca era fresco e cremoso.

5. CHARDONNAY:Coocenal Cooperativa Central Nova Aliança: Nariz limpo, com nota de damasco e amendoim. Na boca, um pouco gordo demais, meio adocicado, faltou frescor.

6. CHARDONNAY:Vinícola Góes e Venturini: mais fresco, também limpo no aroma, com notas tropicais de abacaxi. Na boca é cremoso, limpo, com bom frescor e ótimo acabamento.

Categoria: Branco Fino Seco Aromático

7. MOSCATO GIALLO:Casa Geraldo: Perfumado, bem floral. Na boca é fresco. Tem um finalzinho com toque amargo e um pouco curto.

8. MOSCATO R2:Vinícola Perini. O comentarista deste vinho disse coisas muito interessante. Sr. Luis Vicente Elias Pastor é do dpto de Documentação e Patrimonio cultural e trabalha na Viña Tondonia, na Rioja. Ele disse que sentia falta de sentir nos vinhos brasileiros o clima da região. Ele disse que se o clima é umido e chuvoso, deveríamos ser capazes de sentir esse aspecto “atlântico” nos vinhos. Nunca tinha pensado nisso, mas concordei na hora. Há tantos vinhedos no mundo com essas características, que produzem vinhos com esse lado fresco dos climas umidos. Por que nós não nos inspiramos neles? A propósito, este vinho tinha isso. É um moscato delicado, com flor branca e fruta fresca. Na boca, tem cremosidade, mas é fresco, seco e delicado.

Categoria: Rosé Seco

9. ROSÉ (Cabernet Sauvignon):Vinícola Almadén: notas de groselha no nariz, com um toque lácteo. Na boca é fresco, com uma certa doçura e um finalzinho amargo que o torna um desequilibrado.

Categoria: Tinto Fino Seco Jovem

10. PINOT NOIR:Rasip Agropastoril: Não conhecia esta vinícola. Vinho super denso na cor, para um Pinot. Nariz exuberante e frutado. Na boca é denso, meio alcoólico, com taninos finos, mas pouco extrato e curto no final.

Categoria: Tinto Fino Seco

11. CABERNET FRANC: Cia Piagentini de Bebidas e Alimento: Nariz um pouco reduzido e fechado. Na boca, porém, tinha frescor, taninos ainda duros,mas finos que se fundiam com o álcool no final. Ficar de olho!

12. CABERNET FRANC: Estabelecimento Vinícola Valmarino: Nariz alcoólico, com um toque de madeira e fruta. Na boca, fresco, taninos finos, mas um pouco grudentos, sobrando álcool no final.

13. MARSELAN: Vinícola Dom Cândido: os brasileiros têm produzido bastante coisas interessantes com uvas desconhecidas. A marselan é um cruzamento de Cab. Sauvignon com Grenache criada nos anos 60  no sul da França. Nariz bonito, com flores e frutas. Na boca é equilibrado, com taninos fininhos, apesar de ser bem seco no final. Vou ficar de olho nele.

14. MERLOT: Seival Estate: Nariz um pouco fechado, não dava para sentir muito a fruta. Na boca é fresco, com taninos fininhos e adocicados, final alcoólico. Bastante potencial, principalmente quando esse nariz se abrir.

15. CABERNET SAUVIGNON: Vinícola Santo Emílio. Nariz interessante, com tabaco, notas de madeira e florais. Boca bem estruturada, meio durona, mas com equilibirio, apesar de muito jovem ainda.

16. CABERNET SAUVIGNON:Vinícola Almaúnica: nariz também floral, com ótima fruta e concentração. Na boca, tem muita estrutura, ainda está jovem, com muito álcool e taninos. Bom para ficar de olho também.

 

 

https://alexandracorvo.wordpress.com/2010/09/25/18a-avaliacao-nacional-de-vinhos-safra-2010/

 

 

Diego González

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